Como Moisés no monte Sinai
O
Espírito Santo não deixou de sublinhar com fenômenos naturais ato tão
importante para a História da Igreja e dos homens. Eis ainda um relato da
época: .Tal é a pálida descrição do que se passou nessa imortal manhã de 18
de julho de 1870. A lembrança será indelével para aqueles que tiveram a
felicidade de assistir a esta bela cerimônia religiosa. Um fato todo particular
e notável nos é assinalado por um correspondente.
No
momento em que tinha lugar a proclamação [do dogma da infalibilidade], uma tempestade que
desde a madrugada pairava surdamente sobre Roma, rebentou subitamente, abalando
as abóbadas de São Pedro, e um clarão enorme envolveu os assistentes. O trovão
não cessou de ribombar até o fim da leitura. Todos os assistentes pensaram
então no Sinai; parecia que uma nova revelação descia sobre o povo, assim como
sucedera com a lei de Moisés, no meio dos relâmpagos e dos trovões.
De
repente, porém, quando se ouviam as derradeiras palavras, a atmosfera serenou,
e quando Pio IX entoou o Te Deum, um raio de sol bateu em cheio no seu nobre e
meigo semblante. O coro da Capela Sistina, que deveria continuar o Te Deum, não
pôde ser ouvido, as vozes eram abafadas pelas dos Bispos e da multidão.
Praça de
São Pedro, 18 de julho de 1870: nesse dia tão importante para a História da
Igreja e dos homens, o Papa Pio IX proclama o dogma da infalibilidade
pontifícia, confirmando solenemente a suprema autoridade apostólica do Vigário
de Cristo
A
Constituição Pastor Aeternus, aprovada nessa última sessão do Concílio,
distribuída em quatro capítulos, fundamenta magistralmente na Bíblia e na
Patrística o valor e a substância do primado romano e sua perpétua duração; a
perpetuidade do primado de São Pedro nos Romanos Pontífices; o sumo, imediato e
universal poder de jurisdição do Santo Padre sobre a Igreja; e, por fim, no
capítulo 4º, define o dogma da infalibilidade pontifícia nos seguintes termos:
Por isso,
Nós, apegando-nos à Tradição recebida desde o início da fé cristã, para a
glória de Deus, nosso Salvador, para exaltação da religião católica, e para a
salvação dos povos cristãos, com a aprovação do Sagrado Concílio, ensinamos e
definimos como dogma divinamente revelado que o Romano Pontífice, quando fala ex
cathedra, isto é, quando, no desempenho do ministério de pastor e doutor de
todos os cristãos, define com sua suprema autoridade apostólica alguma doutrina
referente à fé e à moral para toda a Igreja, em virtude da assistência divina
prometida a ele na pessoa de São Pedro, goza daquela infalibilidade com a qual
Cristo quis munir sua Igreja quando define alguma doutrina sobre a fé e a
moral; e que, portanto, tais declarações do Romano Pontífice são por si mesmas,
e não apenas em virtude do consenso da Igreja, irreformáveis.