segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Igreja de Nossa Senhora do Rosário, Irmandade, e Pai José

"Todas as informações foram extraídas do livro
 Templos e Crentes"
 



Na praça a que deu seu nome, está colocada a velha igreja de Nossa
Senhora do Rosário, de Baependi.
É branca e singela, guarda tradições estreitamente ligadas a 

cidade, as quais havemos de nos referir, adiante.



Servida, exteriormente, por ampla escadaria, guarnecida, de um
lado e de outro, por globos foscos de luz elétrica, mostra, em seu
frontispício, larga porta, em semicírculo, com envidraçamento,
 disposto em leque.




















Acima da referida porta, abrem se três

 janelas, com ligeiros ornatos
 às bases, sendo maior e com parapeito,

 gradeado de ferro, a que
 fica ao centro, onde está um sino.

 Todas, envidraçadas, formam, no
 estilo da porta, semicírculos.



Ao auto da janela do meio, está o

grande mostruário do relógio que
 serve ao público, badalando horas, vigorosamente.

Esse relógio, ali, foi colocado por iniciativa do ex vigário de
 Baependi, Pe. José de Oliveira Barreto.





 
Aos lados da igreja, abrem se

 portas e janelas, estas

envidraçadas.







À direita, deitando para a rua, existiu, ligada à parede mais baixa do
 templo, uma sacristia, demolida por ocasião da última reforma do
mesmo, empreendida pelo vigário Pe. Inácio Kusch.

Antes dessa reforma, na parte interna, erguia se o altar mor de
Nossa Senhora do Rosário e um outro avia, à direita de quem entra,
 abaixo do grande arco.















Santa Ifigênia e São Benedito

possuíam suas imagens, nessa

igreja.








À esquerda, havia uma sineira. Do mesmo lado, existe um pequeno
 e antigo cemitério da irmandade, à muitos anos fechado. Nele se
 conservam, ainda, algumas catacumbas.

Posteriormente aos trabalhos de pai José, de quem oportunamente
trataremos, a igreja foi ampliada, graças à dedicação de Manuel
Constantino Pereira Guimarães, português, homem de estatura
 baixa, moreno, trato afável, tio de mons. Marcos Nogueira; antigo
comerciante, retirado, depois, a uma chácara, situada no bairro
 Lava Pés, devotou se aos serviços do referido templo. É um nome
 que merece acatamento dos católicos baependianos.

Grandes foram os melhoramentos introduzidos, pelo vigário Pe.
 Inácio kusch, na igreja; na mesma, não existiam janelas laterais e
 ele as abriu, dando, assim, mais luz ao santuário; é trabalho seu o
 da atual sacristia, aos fundos. substituiu, também, o antigo altar
 mor pelo que hoje lá se encontra, vindo, em tempo, da igreja
 matriz; forrou e pavimentou o templo, pintou-o, cuidou do coro,
 deu lhe confessionários, mudou o local do sino, fez construir a
 escadaria de frente, realizou, enfim, outros trabalhos, tornando-se
 desse modo, benfeitor da igreja.

Possui o Rosário um quadro de subido valor, para o qual chamamos
 a atenção dos leitores:


 
 
 A Descida Da Cruz, de Rubens, cópia do já
 notável pintor baependiano - Manuel Constantino, por este doado
 ao Santuário que foi, por muitos anos, o enlevo de seu digno avô-
 Manuel Constantino Pereira Guimarães, já por nós mencionado.

A IRMANDADE
Sabem todos como os pretos foram devotos de Nossa Senhora do Rosário; templos ergueram-se Aquela que tomaram como sua protetora e representava para sua raça uma grande esperança de redenção, ao mesmo tempo que um consolo, sempre imediato, as agruras que experimentavam, nos sombrios dias do cativeiro.
Baependi não devia ser estranho a esse sentimento religioso,tão difundido, tendo, como tinha, uma escravatura numerosa, ao serviço de seu município.
A influência dos homens de cor se fez sentir, pois, em nosso meio, intensificando, como uma de suas manifestações, a devoção a Virgem do Rosário.
Criaram-lhe a irmandade, organizando-lhe o respectivo Compromisso, lançado em um livro, capeado de veludo, escrito em excelentes caracteres, no qual, logo a fls. 2, se depara a primeira mesa eleita, no consistório da Matriz, em 6 de janeiro de 1820, sendo vigário Domingos Rodrigues Afonso.


PAI JOSÉ

Pai José tem seu nome intimamente ligado a história do templo
 dedicado à Nossa Senhora do Rosário, da cidade de Baependi.

Parece que não foi preto bem retinto, a julgar-se pela alcunha com
 que o designavam, mesmo bastante tempo depois de morto.

Em abono do que fica dito, lembraremos que um velho
 baependiano, dele falando, esclareceu que o conheciam como- José
 Cabra.

Ora, Cândido de Fegueiredo, em seu Dicionário, introduziu a
 expressão-"cabra", já com a significação de "Mestiço, filho de
 mulato e negra ou vice versa".

Assim, concluímos que o referido José não era um puro africano.

Tinha ele sua morada na fazenda do " Vale Formoso", distrito da
 cidade de Baependi. Era escravo, pertencente a José Carlos
 Nogueira, segundo nosso informante, acima referido.

Aos domingos, fazia coletas de esmolas, destinadas as obras do
 templo de Nossa Senhora do Rosário, de quem era devoto e
 Humilde servo.

Bem diverso do atual era o pequeno santuário, do tempo de pai
 José. Não devia comportar todos os devotos que se encaminhavam
 para lá, em dias de festividades. Naturalmente que isso iria
 despertar o zelo daquele preto; angariou esmolas necessárias, com
 que se ergueu, na capela, uma espécie de alpendre, para abrigo do
 povo.

Tal alpendre foi, mais tarde, demolido.

Falando de pai José, benfeitor da igreja do Rosário, velho sacristão
 da Matriz baependiana contou nos ter ouvido, de pessoa antiga, da
 própria família, dele, sacristão, que era extraordinária a fé
 manifestada pelo referido preto.

A expressão-"extraordinária"- deve aqui ser tomada no verdadeiro
 sentido de- anormal, singular, rara.

Efetivamente, de acordo com aquelas reminiscências, quem
 observasse o preto, nos atos religiosos, ficaria empolgado pela sua
 piedade. Estranha centelha trazia no olhar, quando se referia à
 Nossa Senhora. A presença da imagem desta, acenava ele,
 rogando, enlevado, ajoelhassem-se todos. Sua soberana e protetora
 ali estava.


Humilde, devia depositar suas esperanças, queixas e amarguras aos
 pés daquela Senhora, tão diferente de outras senhoras que os
 cativos conheceram!

Seus trabalhos não podem ser por nós, infelizmente enumerados,
 em parcelas; talvez constem de livro, que não nos foi dado
 consultar, da Irmandade do Rosário.

Poucas palavras, entretanto, escritas em uma tela,

de que trataremos, dizem muito a seu respeito.

Da família de José, só sabemos o nome de uma sua filha- Florência.

Onde descansarão os ossos do preto José?

Diz- se, vagamente, que dentro da própria igreja do Rosário, o que,
 entretanto, contraria o disposto no ato que confirmou o
 Compromisso da Irmandade, sobre sepultamentos na igreja.

Daquele fervoroso crente, resta-nos, ainda, em bom estado de
 conservação, um valioso retrato, a óleo, a que atrás nos referimos,
 feito em ponto grande, suspenso, por muito tempo, a uma das
 paredes da sacristia, ora demolida, de seu querido templo.


Está em moldura negra, medindo a tela 1,m90 de alto e 0,m75 de
 largura. Tem o retrato 1,m40.

Seus olhos são miúdos, brancos os cabelos, como embranquecidos
 se mostravam os bigodes.


A camisa está aberta ao pescoço, deixando ver qual pender parte do
 peito, do qual pende um terço, feito de contas chamadas-lágrimas
 de Nossa Senhora, com uma pequena cruz que sobre a jaqueta
 projeta sua sombra.


Essa peça de roupa, de tom amarelo claro, listrada de vermelho,
 também claro, mostrando cinco botões, cobertos do mesmo tecido,
 um dos quais fora da respectiva casa, termina em bicos, na
 extremidade inferior.

À altura do terceiro botão, de um e de outro lado, desenham-se dois
 bolsos.

Da mão do retrato, a esquerda, pende um pequeno cesto, um tanto
 fundo, com alça, mostrando sua tecedura; dentro dele, à boca estão
 cinco ovos, espalhados.

Eram usuais esmolas, consistente em ovos.





Na mão direita, vê-se um prato, dentro do qual estão algumas
 moedas, de cobre, ao que parece.












Veste pai José um calção branco, que lhe desce até as curvas das
 pernas, tendo, a frente, debruado, aos lados, um alçapão.

Os atilhos do calção, já mencionado, estão soltos, nas curvas,
 apresentando duas casas, ao lado esquerdo.


O retrato, de compleição delgada, veste uma opa da Irmandade do
 Rosário. Está descalço.

Todo o trabalho é bem feito.

Pena é que não traga o nome de seu autor, nem o lugar onde foi
 elaborado.

A tela, na parte inferior, traz os dizeres seguintes:



" Eis o zeloso procurador e reedificador, desta

Capella".

Está sóbria inscrição é uma síntese da vida e dos labores de Pai José.

A virtude, que, de início, aí se põe em evidência, é a de seu zelo. Não
 foi um servo trabalhando, descuidosamente, na vinha do Senhor;
 nesse trabalho, empenhar é um zelo tal que, para o mesmo, a
 legenda do quadro chama nossa atenção.

Foi procurador da capela, procurador cuidadoso; reconstruiu o
 pequeno templo, de então.

Mereceu as honras de uma tela à óleo, graças à qual as novas
 gerações podem contemplar seu vulto negro-modelo de viva fé e
 humildade valorosa.

MILAGRES DE NHÁ CHICA

(Extraído do livro: Templos e Crentes, de José Alberto Pelúcio)
PORTA DO TEMPLO
 
Estavam já bastante adiantadas, ao que parece, as obras da capela da Conceição.
 
Certo dia, o oficial carpinteiro, disse a Nhá Chica que providenciasse, afim de ser obtida, com encomenda antecipada, especiais tábuas de cedro, para a construção da porta principal da capela. Não se descuidasse, pois não seria com facilidade encontrado esse material, se não fosse com antecedência tratado.
 
Aparece, depois disso, em casa de Nhá Chica, um sitiante, muito descontente, por haver perdido um boi que servia em seu carro, parado, a falta do animal, de que não tinha notícias. Vinha recorrer as orações de Nhá Chica.
 
- Vamos ver o que diz Nossa Senhora, falou a devota, e recolheu se a orar.
Voltando, disse ao aflito sitiante:
- Sossegue; seu boi está vivo, o senhor não o perderá. Encontra-lo-a, no curral de sua casa.
Meio incredulo, meio deslumbrado pela notícia, o sitiante, indagou de Nhá Chica:
- Não precisa de alguma coisa para as obras da capela?
- O carpinteiro pediu tábuas especiais, de cedro, para a porta principal; é o de que se precisa.
- Pois, Nhá Chica, replicara o sitiante, se, de fato, eu encontrar o boi, no curral de minha casa, darei as tábuas, como as que são indicadas, a capela. Será esse, o primeiro carreto que farei.
 
Pelas estradas chiara, monótono, um carro de bois; a madeira da porta principal da capela, trazida pelo sitiante, lá ficara, na obra em andamento.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Milagres de Nhá Chica

Faremos uma sequência de alguns dos vários milagres que Nhá Chica em vida pode realizar ao interceder à Nossa Senhora.

As informações foram extraídas do livro Templos e Crentes, autoria de José Alberto Pelúcio.


Órgão

Conta-se que, certa vez, em sonho, Nhá Chica ouvira a voz de Nossa Senhora a dizer-lhe que queria um órgão para seu templo.
Guardou o nome ouvido.
Não tinha ela uma noção bem precisa do que fosse aquilo; a respeito, falou ao vigário, contando-lhe o sonho e indagando o que era órgão.

- Ah! Nhá Chica, ter-lhe-ia dito o pároco, é uma coisa muito bonita, um instrumento que se toca nas igrejas e encanta as almas!
- E custará muito dinheiro? indagaria Nhá Chica.
- Sim, custa bastante, replicara o vigário, que calculou, então, o preço do instrumento.
- Pois é, Nossa Senhora quer.
Algum tempo decorrido, Nhá Chica deu aviso ao pároco de que o dinheiro, para a compra do órgão, estava arranjado; providenciasse ele, para tornar efetiva a aquisição e vinda do mesmo.

Encarregou se da compra um bom músico da cidade, que, para isso, foi ao Rio de Janeiro. Lá, fechou negócio do órgão, depois de o haver experimentado.
Foi feito o embarque do instrumento.
A estrada de ferro vinha só até Barra do Piraí; desta cidade para Baependi, o transporte foi feito em carros de bois. Calculem o tempo e as dificuldades de semelhante transporte!

Enfim, o órgão chegou à Baependi, em uma quinta feira.
Como era natural, a curiosidade pública foi despertada pelo acontecimento; acontecimento, sim, que o era, em verdade, para aqueles tempos, em cidade do interior.
O desejo de se ouvir o instrumento devia ser grande.
Para a capela, afluíram muitos curiosos.

O órgão foi, por fim, colocado em seu lugar.
O artista, encarregado de sua compra, achava-se presente; experimentaria o instrumento. Correu os dedos pelo teclado alvo e... silêncio absoluto! mais uma tentativa... inutil! o instrumento não funcionava. A decepção foi grande! A assistência começou a murmurar.
Nhá Chica estava presente. Alçou, de momento, sua vóz:
- Senhor F...(o organista), o órgão, hoje, não tocará; nada lhe falta, está perfeito. Nossa Senhora não quer que ele toque, hoje; amanhã, as três horas, ele tocará, quando se cantar a Ladaínha à Nossa Senhora. O sino dará o competente aviso.
E as pessoas presentes diziam:
- Quebraram o órgão, certamente, os solavancos do carro de bois!
- Os finórios, do Rio, venderam coisa imprestável!
Foi um desapontamento!
No dia seguinte, sexta feira, dado o sinal, pelo sino da capela, para esta muita gente se dirigiu.
 
O organista achava-se junto do instrumento.
Às três horas, precisamente, rompe-se a ladainha, e o órgão derrama suas ondas sonoras pelo tempo, acompanhando, majestoso, aquele hino de beleza incomum, votado, pela igreja, à Maria Imaculada.
Porque, na véspera, silênciara o instrumento?
Seria porque seu primeiro canto, na cidade, devera ser consagrado, não à curiosidade pública, mas à Virgem da Conceição?

 
Seriam as primícias de seus sons, na cidade, uma homenagem as três horas de Sexta feira, de tanta devoção de Nhá Chica, a obscura serva de Maria?
 
Não sabemos; registramos, apenas, o fato.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Festa de Nossa Senhora do Rosário



No dia 30 de outubro de 2012, foi realizada a tradicional Festa de Nossa Senhora do Rosário, um grande presente para os católicos de Baependi, já que esta Festa, não havia sendo realizada a algum tempo, alguns pensavam que já estava até extinta, esquecida pelo tempo.



Outro grande presente, foi a utilização da imagem original da Virgem do Rosário, uma linda e histórica imagem, que atravessa os séculos na nossa velha baependi. A imagem é de tamanho pequeno, feita de madeira totalmente bordada à ouro, seu estilo é o barroco.









































A procissão contou com a presença de dois grupos de congada de Caxambú, a de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário. Com cantos à Nossa Senhora, a procissão seguiu pelas ruas da cidade, até culminar na Igreja do Rosário.
Ao adentrar no Santuário, outra surpresa, a igreja havia ganhado novos móveis, ricamente produzidos para a igreja que os escravos ajudaram a construir no século XIX.



O tão singelo templo, ganhou Mesa do Altar, Ambão da Palavra, Castiçais, Suportes para dois Anjos Adoradores,
























Uma Imagem de São Benedito, Uma Imagem de Santa Ifigênia, Uma Imagem em estilo barroco de Nossa Senhora do Rosário, Um Crucifixo, Cadeira do celebrante, dois banquinhos para concelebrantes, Duas Credências, Suportes para dois Anjos Adoradores, e cadeiras para leitores e Ministros.














































 
 

No final da Celebração, foi lido um decreto, feito pelo bispo Dom Diamantino Prata de Carvalho, sobre o Ano da Fé, proclamado pelo Papa Bento XVI. No decreto, contavam as igrejas que os fiéis deverão rezar para que assim possam gozar de Indulgências Plenárias.





A Santa Missa foi muito bonita, com cantos e danças típicas dos escravos, e ao final foram servidos vários quitutes aos participantes da Celebração.