"Todas as informações foram extraídas do livro
Templos e Crentes"
Senhora do Rosário, de Baependi.
É branca e singela, guarda tradições estreitamente ligadas a
cidade, as quais havemos de nos referir, adiante.
Servida, exteriormente, por ampla escadaria, guarnecida, de um
cidade, as quais havemos de nos referir, adiante.
Servida, exteriormente, por ampla escadaria, guarnecida, de um
lado e de outro, por globos foscos de luz elétrica, mostra, em seu
às bases, sendo maior e com parapeito,
gradeado de ferro, a que
fica ao centro, onde está um sino.
Todas, envidraçadas, formam, no
Todas, envidraçadas, formam, no
estilo da porta, semicírculos.
serve ao público, badalando horas, vigorosamente.
Esse relógio, ali, foi colocado por iniciativa do ex vigário de
Baependi, Pe. José de Oliveira Barreto.
Aos lados da igreja, abrem se
portas e janelas, estas
envidraçadas.
portas e janelas, estas
envidraçadas.
À direita, deitando para a rua, existiu, ligada à parede mais baixa do
templo, uma sacristia, demolida por ocasião da última reforma do
mesmo, empreendida pelo vigário Pe. Inácio Kusch.
Antes dessa reforma, na parte interna, erguia se o altar mor de
Nossa Senhora do Rosário e um outro avia, à direita de quem entra,
abaixo do grande arco.
Santa Ifigênia e São Benedito
possuíam suas imagens, nessa
igreja.
possuíam suas imagens, nessa
igreja.
À esquerda, havia uma sineira. Do mesmo lado, existe um pequeno
e antigo cemitério da irmandade, à muitos anos fechado. Nele se
conservam, ainda, algumas catacumbas.
Posteriormente aos trabalhos de pai José, de quem oportunamente
trataremos, a igreja foi ampliada, graças à dedicação de Manuel
Constantino Pereira Guimarães, português, homem de estatura
baixa, moreno, trato afável, tio de mons. Marcos Nogueira; antigo
comerciante, retirado, depois, a uma chácara, situada no bairro
Lava Pés, devotou se aos serviços do referido templo. É um nome
que merece acatamento dos católicos baependianos.
Grandes foram os melhoramentos introduzidos, pelo vigário Pe.
Inácio kusch, na igreja; na mesma, não existiam janelas laterais e
ele as abriu, dando, assim, mais luz ao santuário; é trabalho seu o
da atual sacristia, aos fundos. substituiu, também, o antigo altar
mor pelo que hoje lá se encontra, vindo, em tempo, da igreja
matriz; forrou e pavimentou o templo, pintou-o, cuidou do coro,
deu lhe confessionários, mudou o local do sino, fez construir a
escadaria de frente, realizou, enfim, outros trabalhos, tornando-se
desse modo, benfeitor da igreja.
Possui o Rosário um quadro de subido valor, para o qual chamamos
a atenção dos leitores:
A Descida Da Cruz, de Rubens, cópia do já
notável pintor baependiano - Manuel Constantino, por este doado
ao Santuário que foi, por muitos anos, o enlevo de seu digno avô-
Manuel Constantino Pereira Guimarães, já por nós mencionado.
A IRMANDADE
Sabem todos como os pretos foram devotos de Nossa Senhora do Rosário; templos ergueram-se Aquela que tomaram como sua protetora e representava para sua raça uma grande esperança de redenção, ao mesmo tempo que um consolo, sempre imediato, as agruras que experimentavam, nos sombrios dias do cativeiro.
Baependi não devia ser estranho a esse sentimento religioso,tão difundido, tendo, como tinha, uma escravatura numerosa, ao serviço de seu município.
A influência dos homens de cor se fez sentir, pois, em nosso meio, intensificando, como uma de suas manifestações, a devoção a Virgem do Rosário.
Criaram-lhe a irmandade, organizando-lhe o respectivo Compromisso, lançado em um livro, capeado de veludo, escrito em excelentes caracteres, no qual, logo a fls. 2, se depara a primeira mesa eleita, no consistório da Matriz, em 6 de janeiro de 1820, sendo vigário Domingos Rodrigues Afonso.
PAI JOSÉ
Pai José tem seu nome intimamente ligado a história do templo
dedicado à Nossa Senhora do Rosário, da cidade de Baependi.
Parece que não foi preto bem retinto, a julgar-se pela alcunha com
que o designavam, mesmo bastante tempo depois de morto.
Em abono do que fica dito, lembraremos que um velho
baependiano, dele falando, esclareceu que o conheciam como- José
Cabra.
Ora, Cândido de Fegueiredo, em seu Dicionário, introduziu a
expressão-"cabra", já com a significação de "Mestiço, filho de
mulato e negra ou vice versa".
Assim, concluímos que o referido José não era um puro africano.
Tinha ele sua morada na fazenda do " Vale Formoso", distrito da
cidade de Baependi. Era escravo, pertencente a José Carlos
Nogueira, segundo nosso informante, acima referido.
Aos domingos, fazia coletas de esmolas, destinadas as obras do
templo de Nossa Senhora do Rosário, de quem era devoto e
Humilde servo.
Bem diverso do atual era o pequeno santuário, do tempo de pai
José. Não devia comportar todos os devotos que se encaminhavam
para lá, em dias de festividades. Naturalmente que isso iria
despertar o zelo daquele preto; angariou esmolas necessárias, com
que se ergueu, na capela, uma espécie de alpendre, para abrigo do
povo.
Tal alpendre foi, mais tarde, demolido.
Falando de pai José, benfeitor da igreja do Rosário, velho sacristão
da Matriz baependiana contou nos ter ouvido, de pessoa antiga, da
própria família, dele, sacristão, que era extraordinária a fé
manifestada pelo referido preto.
A expressão-"extraordinária"- deve aqui ser tomada no verdadeiro
sentido de- anormal, singular, rara.
Efetivamente, de acordo com aquelas reminiscências, quem
observasse o preto, nos atos religiosos, ficaria empolgado pela sua
piedade. Estranha centelha trazia no olhar, quando se referia à
Nossa Senhora. A presença da imagem desta, acenava ele,
rogando, enlevado, ajoelhassem-se todos. Sua soberana e protetora
Humilde, devia depositar suas esperanças, queixas e amarguras aos
pés daquela Senhora, tão diferente de outras senhoras que os
cativos conheceram!
Seus trabalhos não podem ser por nós, infelizmente enumerados,
em parcelas; talvez constem de livro, que não nos foi dado
consultar, da Irmandade do Rosário.
Poucas palavras, entretanto, escritas em uma tela,
de que trataremos, dizem muito a seu respeito.
de que trataremos, dizem muito a seu respeito.
Da família de José, só sabemos o nome de uma sua filha- Florência.
Onde descansarão os ossos do preto José?
Diz- se, vagamente, que dentro da própria igreja do Rosário, o que,
entretanto, contraria o disposto no ato que confirmou o
Compromisso da Irmandade, sobre sepultamentos na igreja.
Daquele fervoroso crente, resta-nos, ainda, em bom estado de
conservação, um valioso retrato, a óleo, a que atrás nos referimos,
feito em ponto grande, suspenso, por muito tempo, a uma das
Está em moldura negra, medindo a tela 1,m90 de alto e 0,m75 de
largura. Tem o retrato 1,m40.
Seus olhos são miúdos, brancos os cabelos, como embranquecidos
A camisa está aberta ao pescoço, deixando ver qual pender parte do
peito, do qual pende um terço, feito de contas chamadas-lágrimas
de Nossa Senhora, com uma pequena cruz que sobre a jaqueta
Essa peça de roupa, de tom amarelo claro, listrada de vermelho,
também claro, mostrando cinco botões, cobertos do mesmo tecido,
um dos quais fora da respectiva casa, termina em bicos, na
extremidade inferior.
À altura do terceiro botão, de um e de outro lado, desenham-se dois
bolsos.
Da mão do retrato, a esquerda, pende um pequeno cesto, um tanto
fundo, com alça, mostrando sua tecedura; dentro dele, à boca estão
cinco ovos, espalhados.
Na mão direita, vê-se um prato, dentro do qual estão algumas
moedas, de cobre, ao que parece.
Veste pai José um calção branco, que lhe desce até as curvas das
pernas, tendo, a frente, debruado, aos lados, um alçapão.
Os atilhos do calção, já mencionado, estão soltos, nas curvas,
apresentando duas casas, ao lado esquerdo.
O retrato, de compleição delgada, veste uma opa da Irmandade do
Rosário. Está descalço.
Todo o trabalho é bem feito.
Pena é que não traga o nome de seu autor, nem o lugar onde foi
elaborado.
A tela, na parte inferior, traz os dizeres seguintes:
" Eis o zeloso procurador e reedificador, desta
Capella".
Capella".
Está sóbria inscrição é uma síntese da vida e dos labores de Pai José.
A virtude, que, de início, aí se põe em evidência, é a de seu zelo. Não
foi um servo trabalhando, descuidosamente, na vinha do Senhor;
nesse trabalho, empenhar é um zelo tal que, para o mesmo, a
legenda do quadro chama nossa atenção.
Foi procurador da capela, procurador cuidadoso; reconstruiu o
pequeno templo, de então.
Mereceu as honras de uma tela à óleo, graças à qual as novas
gerações podem contemplar seu vulto negro-modelo de viva fé e
humildade valorosa.