sábado, 8 de dezembro de 2012

Beatificação de Nhá Chica


Palavras de esclarecimento ao Povo devoto de Nhá Chica

Escrito por Secretaria de Pastoral em 06 Dezembro 2012.

No mês em que a Santa Igreja Católica rende homenagens à Imaculada

Conceição, queremos especialmente compartilhar as últimas notícias sobre a Causa de

Beatificação de Francisca de Paula de Jesus, Nhá Chica, fervorosa devota de Nossa

Senhora. Estamos já próximos à data festiva dessa solenidade ímpar para a nossa

centenária Diocese e para toda a comunidade, marcada para 11 de maio de 2013, em

 Baependi.

 

Elevar Nhá Chica à glória dos altares é o resultado de um abnegado e longo trabalho que começou em nossa Diocese da Campanha, anos atrás, pela ação de seus bispos, meus prezados predecessores, entre eles o estimado irmão Dom Aloísio Roque Oppermann, SCJ, que deu início ao Processo.

 

Todos os Senhores Bispos entenderam a fama de santidade de Nhá Chica, já pressentida pelos milhares de devotos, desde sua morte, em 1895. Quase um século depois, em 1991, a Congregação para as Causas dos Santos concedeu o "Nada obsta" para se iniciar o processo.

 

A partir daí, foram 20 anos de intensas orações e trabalhos pastorais e de evangelização em prol do reconhecimento, por parte de Sua Santidade o Papa, das virtudes heróicas de Nhá Chica.

 

E "agora é a ocasião" de multiplicarmos as forças e a dedicação por esta Causa, pois a partir da assinatura do decreto do Sumo Pontífice, que oficializa sua Beatificação, o nome de Nhá Chica corre o Brasil e o mundo.

 

São inúmeros olhares e corações que então se voltam para nossa Diocese, no Sul do Estado de Minas Gerais, esperando de nós, religiosos e leigos devotos, gestos e atitudes que honrem o nome de Nhá Chica.

 

É por isso que, na qualidade de Pastor deste Rebanho, venho trazer ALGUNS ESCLARECIMENTOS à população de Baependi, extensivos a todos os romeiros, romeiras, devotos e devotas de Francisca de Paula de Jesus, espalhados pelo país.

 

A capela construída por Nhá Chica em terreno de sua propriedade, foi deixada em testamento, ainda no século XIX, para a Paróquia de Santa Maria de Baependi.

 

Somente a partir dos anos 50, do século passado, a Igreja esteve sob os cuidados de religiosas da Congregação das Irmãs Franciscanas do Senhor, sempre sob a supervisão de perto de todos os párocos da cidade de Baependi que, conscientes da extensão territorial daquela Paróquia, sempre emprestaram voluntariamente sua atenção aos fiéis que ali acorriam, mantendo a Igreja aberta para visitações. No entanto, a mencionada Congregação não possui qualquer vínculo diocesano e, as irmãs sempre tiveram consciência de que, após o reconhecimento oficial do Sumo Pontífice sobre Nhá Chica, haveria necessidade da Paróquia de Baependi ampliar seus trabalhos pastorais naquela Igreja. Assim, o Bispo da Campanha elevou-a à categoria de Reitoria Episcopal, seguindo as normas canônicas, cujo decreto foi assinado em agosto último.

 

Eis que boatos se espalham pela comunidade de Baependi, confundindo as pessoas de bem, apenas porque elas ainda estão desinformadas. Cabe-nos explicar, que as Irmãs Franciscanas do Senhor abriram sua fundação no ano de 1954 com o nome de Nhá Chica, passando à categoria de Associação Civil Beneficente, em 2003. Uma justa homenagem à figura mais querida naquela cidade.

 

Mas, ATENÇÃO: RESSALTE-SE O CARÁTER ESTRITAMENTE CIVIL E NÃO RELIGIOSO da referida Associação. É por isso que se faz necessário esclarecer publicamente as imensas diferenças entre ABNC e Nhá Chica.

 

Nhá Chica nunca pertenceu a uma ordem religiosa, foi sim, uma leiga dedicada às coisas de Deus – e é como leiga que será reconhecida Beata.

 

A ABNC nunca foi uma entidade religiosa; mas tão somente um educandário social. Portanto, para desenvolver suas atividades dedicadas às crianças, NÃO É CORRETO QUE SE USE O NOME DE NHÁ CHICA a despeito de arrecadar doações "para Nhá Chica". Os estatutos da instituição são públicos, podem ser consultados no cartório de Baependi. Neles, não há menção a trabalhos pastorais sobre a Causa de Beatificação da Venerável Serva de Deus – e nem poderia haver. ABNC é tão somente uma entidade filantrópica, civil e educacional, que não prevê qualquer atividade religiosa. Os hábitos franciscanos de suas diretoras e o nome em homenagem à Nhá Chica, levaram muitas pessoas a equivocarem-se sobre a citada ABNC.

 

Quando se iniciaram os trabalhos diocesanos sobre a Causa de Beatificação de Nhá Chica, não foram as Irmãs Franciscanas da ABNC que participaram do Processo. Foram escolhidos religiosos, nomeados pelo Bispo da Campanha, com experiências em canonização, como nas bem sucedidas campanhas de Frei Galvão e Madre Paulina.

 

Com profundo pesar, a Diocese da Campanha viu-se obrigada a publicar no último dia 23 de novembro, um comunicado informando aos fiéis, "que muitas doações feitas à Causa de Beatificação não estavam tendo sua correta destinação". Ora, tal medida, que à primeira vista pode causar estranheza, é simplesmente o resultado de nossa criteriosa investigação para apontar os desvios destes recursos.

 

É IMPORTANTE DEIXAR CLARO QUE JAMAIS, EM NENHUM MOMENTO, A DIOCESE DA CAMPANHA E A PARÓQUIA DE BAEPENDI, APROPRIARAM-SE DE QUALQUER NUMERÁRIO ENTREGUE À ABNC PARA CRIANCINHAS CARENTES. Isto é uma falácia, senão mesmo censurável Difamação que pretende levar a população ao erro. A entidade civil, ABNC, deve ter seus recursos próprios, desvinculados das doações dos fiéis à nobre Beatificação e ulterior Canonização de Nhá Chica.

 

Coletas de missas, doações nos cofres e na casinha de Nhá Chica, sempre deveriam ter sido integralmente destinadas à conta da Beatificação, o que não vem ocorrendo.

 

Também podemos perceber que os devotos e romeiros deixaram de ser informados, nos meios de comunicação da ABNC, sobre a conta específica da Beatificação, que pertence à Diocese da Campanha. Estas e outras atitudes da atual gestão daquela Entidade, levaram-nos a diversas providências que, aos poucos, estão sendo comunicadas.

 

Entidades civis filantrópicas educacionais no Brasil possuem uma série de caminhos legais para obtenção de recursos e incentivos junto aos governos municipais, estaduais e federal. Além das doações voluntárias da comunidade e dos eventos promocionais organizados para este fim (almoços, bingos, bazares, leilões, rifas, etc).

 

O que não podemos mais permitir é o uso indevido do nome de Nhá Chica em benefício de uma entidade civil que nenhum vínculo possui com a Causa de Beatificação.

 

Deixamos aqui registrada nossa estima às religiosas que viveram e trabalharam em Baependi, em harmonia com as nossas diretrizes episcopais e de nossos amados predecessores.

 

De modo que, não possuindo mais a atual comunidade religiosa franciscana, os mesmos propósitos de antes, não nos resta outra alternativa senão esclarecer à comunidade, o real teor de nossos decretos e propósitos em prol da transparente destinação das doações para a Causa de Beatificação, bem como da correta manutenção do legado da Venerável Serva de Deus. Legado este, que pertence ao Povo de Deus, sob a guarda dos Sucessores dos Apóstolos de Cristo.

 

Pedimos a intercessão da Venerável Nhá Chica e da sua Sinhá, a Senhora da Conceição.
E imploramos a bênção de Deus.

 

Da Sé Episcopal da Campanha, aos 08 de dezembro de 2012.

 

Dom Frei Diamantino P. de Carvalho, ofm
Bispo da Diocese da Campanha

 

 

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Igreja de Nossa Senhora do Rosário, Irmandade, e Pai José

"Todas as informações foram extraídas do livro
 Templos e Crentes"
 



Na praça a que deu seu nome, está colocada a velha igreja de Nossa
Senhora do Rosário, de Baependi.
É branca e singela, guarda tradições estreitamente ligadas a 

cidade, as quais havemos de nos referir, adiante.



Servida, exteriormente, por ampla escadaria, guarnecida, de um
lado e de outro, por globos foscos de luz elétrica, mostra, em seu
frontispício, larga porta, em semicírculo, com envidraçamento,
 disposto em leque.




















Acima da referida porta, abrem se três

 janelas, com ligeiros ornatos
 às bases, sendo maior e com parapeito,

 gradeado de ferro, a que
 fica ao centro, onde está um sino.

 Todas, envidraçadas, formam, no
 estilo da porta, semicírculos.



Ao auto da janela do meio, está o

grande mostruário do relógio que
 serve ao público, badalando horas, vigorosamente.

Esse relógio, ali, foi colocado por iniciativa do ex vigário de
 Baependi, Pe. José de Oliveira Barreto.





 
Aos lados da igreja, abrem se

 portas e janelas, estas

envidraçadas.







À direita, deitando para a rua, existiu, ligada à parede mais baixa do
 templo, uma sacristia, demolida por ocasião da última reforma do
mesmo, empreendida pelo vigário Pe. Inácio Kusch.

Antes dessa reforma, na parte interna, erguia se o altar mor de
Nossa Senhora do Rosário e um outro avia, à direita de quem entra,
 abaixo do grande arco.















Santa Ifigênia e São Benedito

possuíam suas imagens, nessa

igreja.








À esquerda, havia uma sineira. Do mesmo lado, existe um pequeno
 e antigo cemitério da irmandade, à muitos anos fechado. Nele se
 conservam, ainda, algumas catacumbas.

Posteriormente aos trabalhos de pai José, de quem oportunamente
trataremos, a igreja foi ampliada, graças à dedicação de Manuel
Constantino Pereira Guimarães, português, homem de estatura
 baixa, moreno, trato afável, tio de mons. Marcos Nogueira; antigo
comerciante, retirado, depois, a uma chácara, situada no bairro
 Lava Pés, devotou se aos serviços do referido templo. É um nome
 que merece acatamento dos católicos baependianos.

Grandes foram os melhoramentos introduzidos, pelo vigário Pe.
 Inácio kusch, na igreja; na mesma, não existiam janelas laterais e
 ele as abriu, dando, assim, mais luz ao santuário; é trabalho seu o
 da atual sacristia, aos fundos. substituiu, também, o antigo altar
 mor pelo que hoje lá se encontra, vindo, em tempo, da igreja
 matriz; forrou e pavimentou o templo, pintou-o, cuidou do coro,
 deu lhe confessionários, mudou o local do sino, fez construir a
 escadaria de frente, realizou, enfim, outros trabalhos, tornando-se
 desse modo, benfeitor da igreja.

Possui o Rosário um quadro de subido valor, para o qual chamamos
 a atenção dos leitores:


 
 
 A Descida Da Cruz, de Rubens, cópia do já
 notável pintor baependiano - Manuel Constantino, por este doado
 ao Santuário que foi, por muitos anos, o enlevo de seu digno avô-
 Manuel Constantino Pereira Guimarães, já por nós mencionado.

A IRMANDADE
Sabem todos como os pretos foram devotos de Nossa Senhora do Rosário; templos ergueram-se Aquela que tomaram como sua protetora e representava para sua raça uma grande esperança de redenção, ao mesmo tempo que um consolo, sempre imediato, as agruras que experimentavam, nos sombrios dias do cativeiro.
Baependi não devia ser estranho a esse sentimento religioso,tão difundido, tendo, como tinha, uma escravatura numerosa, ao serviço de seu município.
A influência dos homens de cor se fez sentir, pois, em nosso meio, intensificando, como uma de suas manifestações, a devoção a Virgem do Rosário.
Criaram-lhe a irmandade, organizando-lhe o respectivo Compromisso, lançado em um livro, capeado de veludo, escrito em excelentes caracteres, no qual, logo a fls. 2, se depara a primeira mesa eleita, no consistório da Matriz, em 6 de janeiro de 1820, sendo vigário Domingos Rodrigues Afonso.


PAI JOSÉ

Pai José tem seu nome intimamente ligado a história do templo
 dedicado à Nossa Senhora do Rosário, da cidade de Baependi.

Parece que não foi preto bem retinto, a julgar-se pela alcunha com
 que o designavam, mesmo bastante tempo depois de morto.

Em abono do que fica dito, lembraremos que um velho
 baependiano, dele falando, esclareceu que o conheciam como- José
 Cabra.

Ora, Cândido de Fegueiredo, em seu Dicionário, introduziu a
 expressão-"cabra", já com a significação de "Mestiço, filho de
 mulato e negra ou vice versa".

Assim, concluímos que o referido José não era um puro africano.

Tinha ele sua morada na fazenda do " Vale Formoso", distrito da
 cidade de Baependi. Era escravo, pertencente a José Carlos
 Nogueira, segundo nosso informante, acima referido.

Aos domingos, fazia coletas de esmolas, destinadas as obras do
 templo de Nossa Senhora do Rosário, de quem era devoto e
 Humilde servo.

Bem diverso do atual era o pequeno santuário, do tempo de pai
 José. Não devia comportar todos os devotos que se encaminhavam
 para lá, em dias de festividades. Naturalmente que isso iria
 despertar o zelo daquele preto; angariou esmolas necessárias, com
 que se ergueu, na capela, uma espécie de alpendre, para abrigo do
 povo.

Tal alpendre foi, mais tarde, demolido.

Falando de pai José, benfeitor da igreja do Rosário, velho sacristão
 da Matriz baependiana contou nos ter ouvido, de pessoa antiga, da
 própria família, dele, sacristão, que era extraordinária a fé
 manifestada pelo referido preto.

A expressão-"extraordinária"- deve aqui ser tomada no verdadeiro
 sentido de- anormal, singular, rara.

Efetivamente, de acordo com aquelas reminiscências, quem
 observasse o preto, nos atos religiosos, ficaria empolgado pela sua
 piedade. Estranha centelha trazia no olhar, quando se referia à
 Nossa Senhora. A presença da imagem desta, acenava ele,
 rogando, enlevado, ajoelhassem-se todos. Sua soberana e protetora
 ali estava.


Humilde, devia depositar suas esperanças, queixas e amarguras aos
 pés daquela Senhora, tão diferente de outras senhoras que os
 cativos conheceram!

Seus trabalhos não podem ser por nós, infelizmente enumerados,
 em parcelas; talvez constem de livro, que não nos foi dado
 consultar, da Irmandade do Rosário.

Poucas palavras, entretanto, escritas em uma tela,

de que trataremos, dizem muito a seu respeito.

Da família de José, só sabemos o nome de uma sua filha- Florência.

Onde descansarão os ossos do preto José?

Diz- se, vagamente, que dentro da própria igreja do Rosário, o que,
 entretanto, contraria o disposto no ato que confirmou o
 Compromisso da Irmandade, sobre sepultamentos na igreja.

Daquele fervoroso crente, resta-nos, ainda, em bom estado de
 conservação, um valioso retrato, a óleo, a que atrás nos referimos,
 feito em ponto grande, suspenso, por muito tempo, a uma das
 paredes da sacristia, ora demolida, de seu querido templo.


Está em moldura negra, medindo a tela 1,m90 de alto e 0,m75 de
 largura. Tem o retrato 1,m40.

Seus olhos são miúdos, brancos os cabelos, como embranquecidos
 se mostravam os bigodes.


A camisa está aberta ao pescoço, deixando ver qual pender parte do
 peito, do qual pende um terço, feito de contas chamadas-lágrimas
 de Nossa Senhora, com uma pequena cruz que sobre a jaqueta
 projeta sua sombra.


Essa peça de roupa, de tom amarelo claro, listrada de vermelho,
 também claro, mostrando cinco botões, cobertos do mesmo tecido,
 um dos quais fora da respectiva casa, termina em bicos, na
 extremidade inferior.

À altura do terceiro botão, de um e de outro lado, desenham-se dois
 bolsos.

Da mão do retrato, a esquerda, pende um pequeno cesto, um tanto
 fundo, com alça, mostrando sua tecedura; dentro dele, à boca estão
 cinco ovos, espalhados.

Eram usuais esmolas, consistente em ovos.





Na mão direita, vê-se um prato, dentro do qual estão algumas
 moedas, de cobre, ao que parece.












Veste pai José um calção branco, que lhe desce até as curvas das
 pernas, tendo, a frente, debruado, aos lados, um alçapão.

Os atilhos do calção, já mencionado, estão soltos, nas curvas,
 apresentando duas casas, ao lado esquerdo.


O retrato, de compleição delgada, veste uma opa da Irmandade do
 Rosário. Está descalço.

Todo o trabalho é bem feito.

Pena é que não traga o nome de seu autor, nem o lugar onde foi
 elaborado.

A tela, na parte inferior, traz os dizeres seguintes:



" Eis o zeloso procurador e reedificador, desta

Capella".

Está sóbria inscrição é uma síntese da vida e dos labores de Pai José.

A virtude, que, de início, aí se põe em evidência, é a de seu zelo. Não
 foi um servo trabalhando, descuidosamente, na vinha do Senhor;
 nesse trabalho, empenhar é um zelo tal que, para o mesmo, a
 legenda do quadro chama nossa atenção.

Foi procurador da capela, procurador cuidadoso; reconstruiu o
 pequeno templo, de então.

Mereceu as honras de uma tela à óleo, graças à qual as novas
 gerações podem contemplar seu vulto negro-modelo de viva fé e
 humildade valorosa.

MILAGRES DE NHÁ CHICA

(Extraído do livro: Templos e Crentes, de José Alberto Pelúcio)
PORTA DO TEMPLO
 
Estavam já bastante adiantadas, ao que parece, as obras da capela da Conceição.
 
Certo dia, o oficial carpinteiro, disse a Nhá Chica que providenciasse, afim de ser obtida, com encomenda antecipada, especiais tábuas de cedro, para a construção da porta principal da capela. Não se descuidasse, pois não seria com facilidade encontrado esse material, se não fosse com antecedência tratado.
 
Aparece, depois disso, em casa de Nhá Chica, um sitiante, muito descontente, por haver perdido um boi que servia em seu carro, parado, a falta do animal, de que não tinha notícias. Vinha recorrer as orações de Nhá Chica.
 
- Vamos ver o que diz Nossa Senhora, falou a devota, e recolheu se a orar.
Voltando, disse ao aflito sitiante:
- Sossegue; seu boi está vivo, o senhor não o perderá. Encontra-lo-a, no curral de sua casa.
Meio incredulo, meio deslumbrado pela notícia, o sitiante, indagou de Nhá Chica:
- Não precisa de alguma coisa para as obras da capela?
- O carpinteiro pediu tábuas especiais, de cedro, para a porta principal; é o de que se precisa.
- Pois, Nhá Chica, replicara o sitiante, se, de fato, eu encontrar o boi, no curral de minha casa, darei as tábuas, como as que são indicadas, a capela. Será esse, o primeiro carreto que farei.
 
Pelas estradas chiara, monótono, um carro de bois; a madeira da porta principal da capela, trazida pelo sitiante, lá ficara, na obra em andamento.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Milagres de Nhá Chica

Faremos uma sequência de alguns dos vários milagres que Nhá Chica em vida pode realizar ao interceder à Nossa Senhora.

As informações foram extraídas do livro Templos e Crentes, autoria de José Alberto Pelúcio.


Órgão

Conta-se que, certa vez, em sonho, Nhá Chica ouvira a voz de Nossa Senhora a dizer-lhe que queria um órgão para seu templo.
Guardou o nome ouvido.
Não tinha ela uma noção bem precisa do que fosse aquilo; a respeito, falou ao vigário, contando-lhe o sonho e indagando o que era órgão.

- Ah! Nhá Chica, ter-lhe-ia dito o pároco, é uma coisa muito bonita, um instrumento que se toca nas igrejas e encanta as almas!
- E custará muito dinheiro? indagaria Nhá Chica.
- Sim, custa bastante, replicara o vigário, que calculou, então, o preço do instrumento.
- Pois é, Nossa Senhora quer.
Algum tempo decorrido, Nhá Chica deu aviso ao pároco de que o dinheiro, para a compra do órgão, estava arranjado; providenciasse ele, para tornar efetiva a aquisição e vinda do mesmo.

Encarregou se da compra um bom músico da cidade, que, para isso, foi ao Rio de Janeiro. Lá, fechou negócio do órgão, depois de o haver experimentado.
Foi feito o embarque do instrumento.
A estrada de ferro vinha só até Barra do Piraí; desta cidade para Baependi, o transporte foi feito em carros de bois. Calculem o tempo e as dificuldades de semelhante transporte!

Enfim, o órgão chegou à Baependi, em uma quinta feira.
Como era natural, a curiosidade pública foi despertada pelo acontecimento; acontecimento, sim, que o era, em verdade, para aqueles tempos, em cidade do interior.
O desejo de se ouvir o instrumento devia ser grande.
Para a capela, afluíram muitos curiosos.

O órgão foi, por fim, colocado em seu lugar.
O artista, encarregado de sua compra, achava-se presente; experimentaria o instrumento. Correu os dedos pelo teclado alvo e... silêncio absoluto! mais uma tentativa... inutil! o instrumento não funcionava. A decepção foi grande! A assistência começou a murmurar.
Nhá Chica estava presente. Alçou, de momento, sua vóz:
- Senhor F...(o organista), o órgão, hoje, não tocará; nada lhe falta, está perfeito. Nossa Senhora não quer que ele toque, hoje; amanhã, as três horas, ele tocará, quando se cantar a Ladaínha à Nossa Senhora. O sino dará o competente aviso.
E as pessoas presentes diziam:
- Quebraram o órgão, certamente, os solavancos do carro de bois!
- Os finórios, do Rio, venderam coisa imprestável!
Foi um desapontamento!
No dia seguinte, sexta feira, dado o sinal, pelo sino da capela, para esta muita gente se dirigiu.
 
O organista achava-se junto do instrumento.
Às três horas, precisamente, rompe-se a ladainha, e o órgão derrama suas ondas sonoras pelo tempo, acompanhando, majestoso, aquele hino de beleza incomum, votado, pela igreja, à Maria Imaculada.
Porque, na véspera, silênciara o instrumento?
Seria porque seu primeiro canto, na cidade, devera ser consagrado, não à curiosidade pública, mas à Virgem da Conceição?

 
Seriam as primícias de seus sons, na cidade, uma homenagem as três horas de Sexta feira, de tanta devoção de Nhá Chica, a obscura serva de Maria?
 
Não sabemos; registramos, apenas, o fato.